A Cidade Mãe
e a sua Província
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Ao Pepetela, meu conterrâneo, peço desculpa e contraponho-me à sua exposição feita em 1993, onde
lança um olhar sobre o passado de Benguela e avalia as suas potencialidades, visando o
futuro... O pequeno espaço que lhe foi concedido não lhe permitiu ir muito longe...
Salvaguardadas as proporções qualitativas dos autores :))) ..., usufruindo do benefício de um
maior espaço, exponho os meus sentimentos e falo da minha querida Benguela.
Diz-se que "Escrever sobre Benguela não é fácil. Já muita gente que ali nasceu ou que ali
passou grande parte da sua vida, o fez. E nalguns casos bem. Tal como não é fácil escrever
sobre o passado de Benguela. O passado de Benguela continua bem vivo na memória de alguns
homens que, relatando um caso dizem: “... E daquela vez que o Alfredo...” e contam como se
fosse história passada há algumas semanas, um incidente com quarenta ou cinquenta anos.
A cada canto. A cada esquina. Em cada árvore frondosa – e há tantas árvores frondosas em
Benguela! – o passado de Benguela é o presente corriqueiro. Basta passear por aquelas ruas
serenas com um velho benguelense, para que ele nos diga: “... aqui era a casa do ...” “...
além ficava o palácio de...”, “... por aqui é que passavam as caravanas que iam para...”.
E, no entanto, Benguela não é cidade quebrada pelo passado. Corta a direito quando chega a
altura de cortar. Enternece-se com o passado, mas vive virada para o futuro. ( ... )"
(in "NOTÍCIA", Ano VIII, Nº 390, 27 de Maio de 1967 - Número de recordação dedicado
a Benguela.)
Eu acrescento...
... o facto de ter nascido em Benguela faz-me sentir uma pessoa especial... Porque nasci no
antigo e famoso Reino de Benguela, de tão rica história!, pela sua personalidade forte
demonstrada ao longo de épocas diferentes da sua vida...
Sinto-me sua e tenho, por outro lado, o sentimento profundo de que a cidade é minha... É uma
pertença mútua...
As suas características são conhecidas dos benguelenses... dos angolanos..., mas nunca é demais
repeti-las para os que pela primeira vez irão ler algo acerca desta cidade. Não são do nosso
tempo, nem dos nossos mais-velhos! Um exemplo dessa rebeldia face à ocupação, tal como era
entendida pelos africanos, que os portugueses ali encontraram, está bem patente nos dizeres
gravados na pedra que encima a porta principal do Forte da Catumbela ou Reduto de S. Pedro (foto
de Aida Saiago - 1974), onde se lê:
Chamam-na cidade mãe de cidades: a partir dela surgiram muitas outras cidades no interior de
Angola... é também cidade-mãe porque, tal como uma Mãe habitualmente procede, ela dá o
exemplo: de personalidade forte, em todos os tempos coerente com as suas ideias... ideais...
pelos quais pagou elevados preços, como aconteceu quando votou em peso no General Humberto
Delgado, o "General sem Medo". Em consequência, foi castigada pelo governo central português
que deixou de injectar na província os valores necessários para o seu desenvolvimento.
Esse é um dos exemplos que se deve dar e Benguela dá sempre: os ideais não têm preço!
Li, há tempos, um artigo no "Benguela Online". Segundo o autor, havia actualmente determinadas
situações que considerava erradas e comparou-as com as do passado (entenda-se, antes de 1975). Se
nos recordarmos que o processo de independência de Angola não foi pacífico, que ficaram feridas,
muitas ainda por sarar, mesmo assim, apontou para o considerava errado, não hesitando em fazer
comparações. É assim o benguelense: destemido, corajoso, orgulhoso da sua cidade, pronto a
defendê-la.
... Percorro a cidade... vou até à Morena... revejo os seus edifícios emblemáticos... os seus
recantos... passeio por ruas, autênticos túneis de acácias rubras... o chão transformado
num tapete encarnado... revejo as suas palmeiras reais, o coreto, as fontes... os jardins que
viram a minha Mãe e os seus irmãos crescer, namorar e casar... a chegada de novas gerações...
Esta é a minha Benguela: cheia de história!... cheia de recordações pessoais!...
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